Quando minha voz não encontrou mais os seus ouvidos
- Léo Tatarana
- 27 de set. de 2017
- 2 min de leitura

Houve dias em que fiquei em silêncio psicológico, ou seja, preso na crença de que não merecia ser ouvido. E quando precisei falar, não havia voz.
Nesses tempos atuais, em que dizem, estarmos mais tempos conectados uns com os outros, sinto que a verdade é outra, na verdade isso tudo é uma ilusão. Vim de um passado com poucos relacionamentos reais, me sabotava muito.
Quantas vezes que quis conversar e precisei muito, mas não havia alguém presente para ouvir.
Percebo que mesmo que eu tente, não há diálogo. Digo diálogo consciente que, além de haver a alegria, tem o intuito de aprender ao ouvir, falar, ver, tocar, ou seja, conversar.
Acredito que estamos todos iludidos com essa falsa percepção de abundância externa, onde o acesso à outra pessoa ficou tão fácil como superficial demais. Vemos as pessoas apenas através da aparência, ao que possuem, status, experiências que podem nos oferecer, onde podem nos levar, ao que imaginamos ser aquela pessoa.
Ignoramos que há um ser do outro lado igual à gente, preso em dificuldades, fraco em algum aspecto, carente de coisas que não sabe o que é, sem direção, sem entender seus sentimentos e confuso com os significados diversos que escuta de tudo e todos, deixando de sentir, muitas coisas se tornando sem sentido, enfim sofrendo. Um sofrimento que muitos não estão vendo ou escolhendo não ver. Ver o sofrimento do outro, sentir, não fazer nada. Para alguns, haverá compaixão, para outros, bem, não são com eles ou com alguém da família. Então pra que se envolver?
O silêncio foi muito perturbador no começo, mas com o início da prática da meditação, comecei a aceitá-lo, não só isso, mas também aceitei a impermanência das coisas, em geral, externas. E com um aprofundamento nos conhecimentos sobre ego, paz, felicidade e sobre o ensinamento de Buda, se esvaziei dessas preocupações acima.
Desde então o silêncio fez parte, um meio para praticar a meditação e a paciência. A voz não tem falhado com muita frequência como antes, quando preciso utilizar, desejar e facilitar a felicidade dos outros se tornou um grande motivo para a minha própria felicidade.
Agora sei que, minha voz não vem apenas da minha boca, pode ser ouvida de varias formas: através de minhas reações, ações, gestos, compaixão, uma habilidade, desses textos, uma mensagem de apoio, uma ajuda a alguém, meu olhar, minha presença, por amar.
A minha voz torna-se presente em tudo e todos. E para isso, não são mais necessários os ouvidos alheios.
Léo Tatarana